Fala, batuqueiro e batuqueira! Qual a boa?!
Hoje iremos apresentar para vocês um bate-papo bem interessante que eu tive com uns dos grandes nomes pandeiro: Léo Rodrigues.
Creio eu que será algo muito agradável e, até mesmo, surpreendente na visão de muitos, uma vez que a história dele, diferentes de alguns musicistas, não é assim tão difundida.
Para que a dinâmica da narrativa fique mais clara, permita-me explicar um pouco de como a nossa conversa será apresentada.
Primeiro, o bate-papo constará, sempre, com uma pergunta e uma resposta, feita por mim e respondida por ele, respectivamente.
Ficando isto claro, sem mais enrolação, vamos para o bate-papo.
Entrevista com Léo Rodrigues
Léo, em qual ponto de sua vida você descobriu que queria ser músico e o que você fez para que se tornasse realidade?
O ponto que eu decidi ser músico, na verdade, foram dois.
O primeiro foi o dia em que fui impactado por uma orquestra de percussão e, até então, nem sabia que música era uma profissão de fato.
Mas foi no instituto brincante, instituto esse que mexia com cultura popular, que eu vi aquela banda utilizar instrumentos da cultura popular brasileira como alfaia, caixa, tarol e que, claramente bebia, e muito, do maracatu, ciranda, cavalo-marinho. E, isso, pra mim, foi algo muito lindo.
Esse número, feito por eles, me tocou tão profundamente que, quando eu cheguei em casa, disse à minha mãe:
“mãe, eu preciso estar nesse lugar”.
Depois disso, então, comprei um pandeiro, entrei nessa escola e comecei a estudar. No entanto, até esse momento, era apenas algo que tinha me tocado de forma, de fato, profunda.
A situação começou a mudar com os meus 18 anos quando eu estava na praia e, de repente, uma cantora se aproximou de mim dizendo que tocava em um bar perto do Bixiga e que lá só tinha voz e violão.
Eu entendi aquilo como um convite e fui lá e, ao me verem, logo me pediram para tocar uma canja, mas havia um problema: eu nem sabia o que era isso.
Apesar da minha dificuldade de entrar na música, afinal, nunca havia tido essa relação de ritmo entre músicos, eu toquei e, no final, todos aplaudiram e foi ali que eu descobri que eu queria ser músico.
Sobre o que eu fiz para que isso se tornasse realidade, irmão, foi simples: a música foi tudo pra mim e nunca desviei dessa direção.
Logo, comecei a frequentar lugares que músicos frequentam e tudo mais. No entanto, na verdade, eu acredito que o principal fator que me fez ser quem sou é que eu não pensei em ser profissional, mas pensava em estar fazendo música.
E foi assim que comecei a ganhar meu primeiro cachê, mas nem sempre foi assim. Não consigo contar quantas vezes eu toquei de graça.
Sendo assim, a dica que eu dou é seja intenso nos momentos que te faz feliz. A música me deixa feliz.
- Léo, quem foi sua principal inspiração?
Cara, minha principal inspiração, para ser honesto, nem foi alguém – no sentindo de uma pessoa que toda – mas, sim, foi o ato de tocar junto com outros instrumentistas.
Isso aconteceu comigo principalmente pelo fato de que eu os via tocar e fazer passagens rítmicas e ataques que com toda certeza eu queria copiar.
Sendo assim, não tenho medo de dizer que minha principal inspiração eram os instrumentistas dos bares e botecos de São Paulo.
- Qual foi a principal dificuldade pela qual se deparou ao tentar ingressar nesse mercado?
Cara, sendo sincero, eu não tive dificuldade alguma de ingressar nesse mercado principalmente pelo fato de que eu nunca vi a música como um mercado.
Meu objetivo quando eu toquei na primeira vez, era ouvir mais música tipo aquela. Quando eu já tinha ouvido muito, meu objetivo era tocar naqueles lugares e, pelo fato deu estar sempre presente e estudando, eu acabava sendo convidado para tocar com eles.
Nunca estabeleci metas como “daqui a 2 anos estarei recebendo um cachê de x reais”, por isso, também, acredito que sempre fui feliz, pois, com metas de longo prazo surgem também as expectativas e, todos sabem, quanto maior a expectativa, maior também a frustração.
E foi assim que, quando menos percebi, já estava tocando no auditório do Ibirapuera e viajando para fora do país.
- Muitos jovens sonham em ser músicos. Não ter instrumento é impeditivo para não batucar?
Olhe bem, não ter instrumento, no começo, não é imprescindível, pois hoje em dia, temos a nossa disposição, uma ferramenta que eu não tinha na minha época: a internet.
E nela, sendo sincero, tem muita gente ensinando de graça – inclusive eu.
Mas não apenas, por isso.
Se formos entender o que é repercussão, chegamos à conclusão de repercutir o som de algo. Então, por exemplo, é possível fazer repique tocando numa tábua de mesa ou, então, timbau, tocando na pia.
O que quero dizer é: os desenhos rítmicos e a musicalidade da frase estão em nossas mãos, então, é preciso saber reproduzir algumas frases em locais que, não necessariamente, são os instrumento.
No entanto, para que você se torne um exímio instrumentista, é necessário que conheça o seu instrumento. Logo, em algum momento, é importante que você compre o instrumento e comece a explorar ele em si.
Mas para quem está começando a dica que eu dou é: aprenda a fazer som com o próprio corpo.
- Em sua opinião, qual a melhor forma para aprender percussão: lendo a literatura ou observando quem sabe tocar? Como você estudou?
Infelizmente eu não posso cravar e dizer qual é a melhor forma para aprender percussão, porque tenho amigos que aprenderam só ouvindo e são grandes percussionistas, assim como tenho amigos que beberam dessa onda mais erudita e também são ótimos percussionistas.
Acredito que seja mais importante entender por onde a música e o aprendizado musical consegue entrar mais fácil no seu corpo.
No meu caso, eu sempre fiz as duas coisas. Eu observava e tentava replicar o que eu via, conseguindo, eu tentava fazer com que o som ficasse o mais próximo possível do perfeito. Mas, quando descobri a partitura, tenho que admitir que houve um grande salto no meu conhecimento.
- Quais habilidades um batucador deve ter?
Ritmo, essa é principal habilidade que um batucador necessita ter. No entanto, quando falamos de mercado profissional, mais que ritmo e musicalidade, é necessário técnica. Pois, só a partir do momento em que conseguimos tirar notas limpas é que conseguiremos nos comunicar da exata forma que a gente quer e, isso, só a técnica faz – seja ela de ir uma maneira instintiva ou estudada.
- Para um jovem que planeja seguir uma carreira como a sua, qual a dica que você dar para que ele possa ingressar em uma banda ou então viver de música?
Cara, eu nunca fui muito de banda. Então, assim, primeiro que eu acho difícil passar dicas para alguém, pois o que eu passei, eu passei, sabe?
Não tem dica que se sustente sozinha.
Tenho amigos meus que trilharam o mesmo caminho que eu trilhei e não deram certo. No entanto, o que eu posso dizer para quem está começando é: percebam o ambiente musical que você tenha paixão. No meu caso, o choro.
Sendo assim, esteja presente nos locais que te alimentem a alma. Se é o pagode, toque pagode e faça networking com quem toca pagode e, assim, com toda certeza, se você for bom, será reconhecido.
Esteja presente, seja notado. A oportunidade está lá esperando por você. Quanto mais o universo saber o que você quer, mais fácil dele te dar.
Hora do bateu, levou
- Qual seu instrumento preferido?
Cara, meu instrumento favorito, obviamente, é o pandeiro. No entanto, apesar desse instrumento, de fato, ser meu carro chefe, tenho um carinho especial e um prazer igual ao tocar instrumento como zabumba e repique de anel.
Inclusive, quero dedicar ainda mais tempo a esses instrumentos.
- Pandeiro de couro ou nylon?
Eu gosto do que vai trazer o melhor resultado para determinado contexto.
Então, as vezes, por exemplo, se estou numa roda de samba que o pandeiro de nylon vai pintar bem, escolho ele. Ou então, caso eu esteja tocando forró e a timbragem do couro está muito grave, escolho o de nylon mais uma vez.
No entanto, é verdade que eu estudei muito mais o pandeiro de couro, justamente pelo fato dele ser mais versátil e nos permitir, assim, tocar mais ritmos.
Confira o Pandeiro Luthieria criado por Léo Rodrigues. Clique aqui.
Sendo assim, posso dizer que o pandeiro de couro é o melhor amigo meu, apesar disso não influenciar na hora de escolher um pandeiro para tocar.
- Qual tipo de som você mais gosta de fazer?
A resposta que eu vou dar, talvez, pareça demagoga, diplomata, mas, de verdade, é o som que eu estou fazendo na hora.
Cansei de tocar em variados ritmos, gêneros e formações e em toda vez, chorar.
Sendo assim, quando eu estou junto de pessoas que respeitam a música e estão ali por amor, eu realmente prefiro aquele som.
No entanto, posso afirmar que o forró e o choro me preenchem muito a alma, pois são dois gêneros que me fazem conectar com meu país e com minha cultura.
Conclusão
E aí, o que acharam desse bate-papo?! Bem gostoso, não é verdade?!
Mais uma vez, foi um prazer te ter aqui conosco mais uma vez e espero que essa conversa tenha agregado em sua jornada de alguma forma.
Acho válido lembrar que Léo Rodrigues tem um canal no Youtube com o nome “Platinelas” e que, de fato, ajudam todos aqueles que sonham em aprender a tocar pandeiro. Siga ele em suas redes sociais, prometo que o conteúdo é incrível!
Até mais!
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