Fala, galerinha do batuque! Beleza?!

Estou aqui, mais uma vez, para falar da história de uma empresa que, querendo, ou não, fez marca em nossa história, uma vez que sempre esteve presente nas rodas de samba de muita gente num final de semana e, até mesmo, naquela reunião em família.

Talvez alguém já pule da cadeira afirmando que nenhuma empresa foi em uma roda de samba que ele montou ou, então, que tenha marcado de alguma forma sua vida.

Mas será que é verdade?

Se na sua roda havia pandeiro, surdo, timbau, tantan, provavelmente essa empresa estava lá, meu bom. E você nem sabia.

Estamos falando da Gope! Vamos lá, que tal saber um pouco mais da história de quem sempre esteve contigo?

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O início antes de tudo começar

Por incrível que pareça, essa história começa na Áustria onde o tataravô de Humberto Rodella, Franz Weingrill, era mestre na fabricação de instrumentos de sopro. Mas, no século 19, a história da vida de Franz e seus filhos mudariam, juntamente com vários imigrantes europeus que vieram ao Brasil.

Giuseppe Weingrill, bisavô de Humberto Rodella, seguiu os passos do pai e fundou uma empresa de sopro aqui no Brasil. No entanto, a ideia da empresa ser administrada por mulheres foi rechaçada por ele, deserdando, assim, todas as suas filhas, deixando como herdeiros, apenas os filhos.

Foi nesse momento, então, que a vó de Humberto, Ignez Weingrill, seguiu outro caminho indo para Araraquara, onde conheceu Umberto Rodella, casando-se no dia 21 de julho 1915, tendo, então, três filhas e Oswaldo Rodella, que, posteriormente, entraria em sociedade com seu pai.

Na terra natal, na Itália, Umberto fabricava Concertina e é exatamente por conta disso sua habilidade em afinar acordeon – conhecimento esse que iria ajudar de forma evidente toda a caminhada do seu empreendimento.

O nascimento de Humberto Rodella

Humberto Rodella nasceu no dia 9 de maio de 1941 na capital de São Paulo, mais precisamente no centro da cidade. Nessa época, o pai dele, como também seu avô, trabalhava na fábrica de sopro dos seus tios.

E foi justamente nessa fábrica onde um acontecimento fatídico aconteceu: Oswaldo Rodella, em um acidente, perdeu o dedo médio e anelar da mão direita, sendo afastado, então, da empresa junto com seu pai.

Quando Humberto completou 11 anos de idade, seu pai, Oswaldo, e seu avô, Umberto, compraram uma casa na Rua Sinimbu. A casa tinha dois andares e um porão e foi nesse porão que eles começaram um empreendimento de conserto de acordeon.

Pequenos negócios, grandes oportunidades

O empreendimento começou fazendo consertos em acordeon importados, sendo que um dos seus principais clientes era a Casa Manon – que também trabalhavam com instrumentos musicais.

No negócio recém-criado trabalhavam Oswaldo, Umberto e Humberto – esse último ainda criança. Aos 8 anos de idade, Humberto aprendeu sobre as notas musicais e, assim, ajudava a afinar os instrumentos que chegavam.

Com a experiência de Oswaldo, além dos consertos de acordeon, iniciaram, também, a fabricação de estojos de madeira para acordeon. Nesse tempo, Humberto já estava com 13 anos de idade.

Foi mais ou menos no ano de 1957, momento este que Humberto fez 15 anos de idade, que ele teve o seu primeiro contato com o mundo da percussão.

Isso tudo aconteceu por conta de que a primeira escola de samba de São Paulo ficava próxima a sua casa, podendo, então, até mesmo, serem considerados vizinhos.

Por conta da carência de instrumentos, foi pedido ajuda ao pai de Humberto, Oswaldo Rodella, para confeccionar os tambores para que a escola pudesse ensaiar.

Foi assim que eles começaram a comprar latas de tinta e outros materiais descartados pelas muitas oficinas e funilarias que eram próximos de sua casa, a fim de que pudessem transformar esses itens em tambores após pintá-los e inserir a pele animal.

O surgimento da marca Gope

Ainda nessa época a empresa se chamava Oswaldo Rodella & Cia Ltda., tendo como sócios Umberto Rodella e o próprio Oswaldo Rodella. No entanto, apesar do nome cadastrado, eles já usavam o nome “Gope” como nome fantasia.

De acordo com Humberto Rodella, o nome Gope surgiu de uma conversa com o pai dele na qual buscavam encontrar um nome forte o suficiente que ficasse gravado na mente de qualquer pessoa – acho que conseguiram, não é mesmo?

No ano de 1960, o tio de Humberto, Marcelo Benedetti, percebendo as habilidades de Oswaldo no manuseio da madeira e de tambores de lata, pediu para que ele fizesse uma bateria e, foi nesse momento, então, que surgiu a primeira bateria da Gope: produzida de forma manual com tambores de madeira e pele de animal.

A bateria, através de Marcelo Benedetti, foi levada para Poços de Caldas (MG) e a aceitação dos baterias da região aconteceu de forma imediata.

A sucessão de um legado

Foi no dia 9 de maio de 1962 que, completando 21 anos, Humberto Rodella recebe um presente de seu pai: a empresa seria passada para o seu nome e foi nesse exato momento que a razão social passou a ser “Gope Instrumentos Musicais Ltda.”.

No mesmo ano o avô de Humberto, Umberto, morreu, mas, ainda assim, ele e seu pai, Oswaldo, continuam trabalhando já focado, nesse momento, em fabricar baterias.

A Gope se tornava a primeira fábrica de bateria do Brasil, 100% nacional.

A bateria era revestida com um material chamado celuloide. Este material é extremamente inflamável e, no ano de 1963, Humberto, tentando salvar a sua casa de um incêndio, se queimou.

A sua recuperação total demorou quase um ano, pois suas mãos e rosto, como também peito, ficaram muito comprometidos. Foi já recuperado, então, que ele decidiu que precisaria de mais espaço para confeccionar as baterias, fazendo com que sua família se mudasse para um apartamento, ficando sozinho na casa da Rua Sinimbu.

O ponto de encontro dos músicos

No ano de 1965, Humberto teve a brilhante ideia de deixar uma bateria montada para que os músicos tocassem, quando chegasse a sua fabrica. Essa medida fez com que a casa, na rua Sinimbu, se tornasse um ponto de encontro de músicos. Entre esses músicos estavam os músicos da jovem guarda, dentre eles, até mesmo, Roberto Carlos.

Por conta dessa amizade, Humberto começou a frequentar as gravações do programa “Jovem Guarda”, nos Estúdios da Record, na Rua Consolação em São Paulo.

Mesmo sem saber o que era merchandising, Humberto Rodella, observando que, por conta de cada músico trazer consigo sua própria bateria, o cronograma do programa sempre se atrasava e, com isso, uma lâmpada acendeu em sua mente: por que oferecer uma bateria que fique sempre pronta para qualquer músico que queria queira tocar ali? – atitude advinda de um sentimento totalmente altruísta.

E foi com esse intuito que muitos músicos passaram a usufruir cada vez mais dos instrumentos da Gope, uma vez que o instrumento estava sempre presente no programa apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, além do programa O Fino da Bossa, comandado por Elis Regina e muitos outros.

Nesse ínterim, de acordo com Humberto, eles estavam no que pode se chamar “o auge da produção musical no Brasil” e isso refletiu em seu negócio que também se tornou um enorme sucesso, uma vez que a bateria Gope se tornou a bateria do músico brasileiro.

A bateria se tornou acessível a todos.

A expansão de uma marca

Era claro que o Brasil passava por um movimento musical bastante forte nessa época, tendo, ainda, como fabricante, uma empresa nacional.

Percebendo isso, Humberto alugou um galpão na Rua Silva Bueno, Ipiranga/SP, com 500m2, totalmente voltado à fabricação.

Dois anos depois, no dia 13 de outubro de 1971, com apenas 56 anos, seu pai, Oswaldo Rodella, morre, fazendo com que ele assuma toda a responsabilidade da empresa.

Em, 1972, iniciou-se, então, a exportação de instrumentos para a Europa e outros países. Aproveitando o incentivo fiscal que o governo de São Paulo dava as indústrias, Humberto comprou, também, uma área de 10 mil metros quadrados na cidade de Embu Guaçu que, no fim, acabou não podendo iniciar a construção, pois, por conta de não haver uma rede elétrica trifásica, não conseguiria ligar as maquinas.

Algumas medidas foram feitas até que ele conseguiu alugar um galpão “abandonado” de um senhor Italiano, na Celso Garcia, n. 1339. O galpão estava destruído, mas de pouquinho em pouquinho foi sendo agilizado toda a situação até que pudesse tocar a fabricação de forma eficiente.

Novos produtos Gope

Por conta da área do galpão ser maior, Humberto pôde expandir e desenvolver novos produtos. Como exemplo, temos a pele de nylon que ele conheceu fora do Brasil. No ano de 1974 ele começa a fabricação de peles de poliéster, tornando-se, então, a primeira empresa brasileira fabricante de peles, sendo algumas delas: pele de animal, poliéster e instrumentos de carnaval em geral.

No ano de 1975, Humberto começou uma pequena construção que, mais tarde viria a ser o primeiro galpão no qual passou a fabricar peças de madeira na Embu Guaçu, enquanto os metais ficaram na Celso Garcia, junto com a loja.

Foi nessa época que Humberto começou a conviver com os militares fornecendo os instrumentos de fanfarra para todo o exército brasileiro e, de pouco a pouco, ser procurado pelas escolas de samba cariocas.

Os títulos de Humberto Rodella

Em 1977 Humberto recebeu o título de comendador, a Medalha Anita Garibaldi, o colar Giuseppe Garibaldi, grã-cruz da legião Garibaldi.

Dá “Ordem da Solidariedade Conselho do Brasil”, um novo título de comendador.

Do Conseil National de L’ Institut Humaniste de Paris, a Láurea máxima “La medaille de reconnaissance”.

E, honrosamente, recebeu, também, da Ordem da Solidariedade a medalha cultural de D. Pedro II e do governo de São Paulo o Título de embaixador do Samba.

Em 1981 com exponencial destaque entre as indústrias do Brasil, Humberto teve a honra de ganhar o título honorífico de Cavaleiro Comendador, dessa vez da Augusta Fraternidade dos Cavaleiros de ordem de “Samuel Aun Weor”.

Em 1985 recebeu pela Sociedade cultural e condecorativa do Brasil e a Ordem de São Maurizio de Thegas o título de Grã-cruz.

São muitos títulos honrosos, não é mesmo? E o melhor de tudo é que esses títulos são dados a pessoas que se destacam por ajudar a engradecer a sociedade e cultura brasileira.

Humberto, Gope e o samba

Em 1978, a Gope começou a vender para as maiores escolas de samba do Brasil.

Mas não apenas isso, na verdade, enquanto sua empresa fornecia os instrumentos, Humberto se tornou presidente da escola de samaba filhotes da x-9, atual X-9 Paulistana – escola esta que ele ajudou a fundar junto com Luiz Ademar de Moura Campos.

Em 1982, venceram o carnal, desfilando no grupo III. Humberto permaneceu na agremiação até o ano de 1983.

De fato Humberto era muito influente em todas as escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro. Ele ajudou, doou e participou ativamente de diversas escolas que não possuíam condições financeiras, além de fornecer instrumento para todas elas.

Como forma de curiosidade, Humberto foi responsável também pelo primeiro grande carro alegórico a ir a um desfile de São Paulo, já que isso só acontecia no Rio de Janeiro.

E, mais uma vez, não para por aí.

Eles criaram um chocalho e registraram com o nome “rocar”, em homenagem a Roberto Carlos, suas iniciais. Eles, até hoje, tem essa patente.

Em 1982 já exportavam para mais de 10 países, estando com mais de 140 produtos na linha de percussão. E, no ano de 1983, Humberto comprou a marca de sopro Galasso e todos os seus equipamentos, passando, então, a fabricar a linha completa de instrumentos de sopro.

Em 1983 comprei a marca de sopro Galasso e todos seus equipamentos, passei a fabricar a linha completa de instrumentos de sopro.

A grande crise de 1990

Não foi uma situação fácil para o povo brasileiro e isso inclui, também, Humberto Rodella. Ele estava na Europa e eia expor na feira de Frankfut e, assim, fez, retornando, logo depois ao Brasil que vivia o conflito do confisco de Collor.

Gope na Feira de Frankfut em 1989

Por conta de ele ter uma grande estrutura e um vasto estoque de matéria prima, conseguiu manter a fabricação e a quantidade de funcionários, mas os clientes dele não conseguiam honrar com seus pagamentos e, assim, a indústria foi desacelerando.

Um dia após o outro e os números só pioravam, tendo que interromper linhas de fabricação, pois o valor de custo da matéria prima era maior que o preço de venda de instrumentos pronto. Por conta disso, então, seguiu apenas com a fabricação de peles e instrumentos de percussão.

Mas foram as exportações que mantiveram a GOPE com as portas abertas nos piore momentos da crise interna do Brasil.

No ano de 1991, Humberto lançou o modelo de pandeiro chamado de chorinho, foi um grande sucesso.

Ainda no ano de 1991, procurado pelo seu amigo Neguinho do samba, conversaram sobre uma banda só de mulheres humildes e negras e ajudaram com os instrumentos que precisavam, mesmo sendo um momento difícil para a GOPE.

Tudo que se planta se colhe, não é verdade?

A boa colheita não tardou a vir.

Em 1996, no Brasil, houve a gravação do clipe de Michael Jackson ‘They Don’t Care About Us”. Com Neguinho do samba a frente dos tambores do Olodum, A GOPE estava no mundo inteiro. Até o dia de hoje esse clipe é assistido no Youtube e tem mais de 769 milhões de visualizações.

Tudo começa a melhorar, ou não

Em 1997, Humberto lançou a linha “Pagode” que, mais uma vez, foi um grande sucesso.

No ano de 1998 confeccionou a inovadora linha de instrumentos com pintura explosão que também foi um sucesso. A GOPE estava a frente da inovação em percussão novamente.

No ano de 2000, a mãe de Humberto faleceu. Mas seguiu trabalhando e confeccionou uma linha de baterias Premium, além de peles “batera” (marca patenteada).

A GOPE era uma das únicas empresas a fabricar uma linha completa de peles para bateria, fabricada 100% o Brasil.

No entanto, apesar da GOPE, mais uma vez, estar em um momento favorável, Humberto se encontrou gravemente doente, um aneurisma abdominal.

Foram meses de internação, além de um pós-cirúrgico bastante longo. Mas, ainda assim, com poucos meses de recuperação, voltou ao trabalho.

Continuando com o processo de criação, Humberto, em 2008, lançou os novos corpos de alumínio, sem reforço, deixando os instrumentos mais leves que qualquer outro. A percussão brasileira, mais uma vez, dá um salta em sua evolução e, obviamente, foi um sucesso estrondoso para a GOPE.

No entanto, novamente, Humberto ficou gravemente doente. Dessa vez, um aneurisma na carótida. A sua filha Najara, que aos 19 anos tinha acabado de se formar, ajudou ele com a Gope, só retornando, então, no ano de 2010.

Ingresso nas mídias sociais

Em 2014, ano de copa, a Gope fez uma linha com as cores do Brasil, através de um grande lançamento em sua loja, além da linha Trio Preto+1. Esse momento, de acordo com Humberto, foi a consolidação dos instrumentos coloridos, pois a aceitação dos instrumentos, depois disso, tornou-se cada vez maior.

Foi nesse mesmo ano, então, que a Gope ingressou nas mídias sociais e, hoje, somam mais de 85 mil seguidores só no instagram.

Em 2015, um ano depois, a Gope abriu a primeira revenda exclusiva dos produtos à Pego instrumento que, mais tarde veio a ser um sucesso estrondoso no Rio de Janeiro.

No ano de 2016, a fábrica foi atingida por um tornado que destruiu 80% de tudo que havia lá. Graças a Deus, nenhum funcionário morrer, no entanto, Humberto afirma, que um pedaço dele morreu lá. Foi um choque grande.

Ainda assim, alguns dias após o desastre começaram a reconstruir.

Fábrica Gope

No ano seguinte, junto com sua filha Najara, lançaram a Linha Selfie que, mais uma vez foi um sucesso absoluto, pois até hoje é a linha mais vendida entre as coloridas – essa linha foi vendida para todo o mundo.

Nesse ano também foi laçado a segunda revenda exclusiva, Senzala Instrumentos, no coração do Pelourinho.

No dia da inauguração da loja houve o lançamento da “Linha Didá”, uma linha com efeito social, foi um dia memorável.

Em 2019 eles exibiram seus instrumentos na feira Music Show e Music SA de Florianópolis. Lançando a linha Storie, e os pandeiros super leve. 

Nesse ano de 2020, a Gope chegou com um plano de expansão agressivo, mas, por conta da recessão do mercado ficaram preocupados em como tudo isso iria acabar, no entanto, graças aos clientes apaixonados, mesmo sem show continuaram comprando seus produtos, mesmo que fosse apenas para tocar em casa.

Em julho desse ano lançaram a linha “Aprendendo Percussão”, uma linha jovial e moderna, está sendo um sucesso.

Chegaram a 10 lojas revendedoras exclusivas de Gope e afirmam que estão apenas no começo.

Para nós da Jô Musical e Clube da Percussão é uma honra ser revendedores e fazer parte da história da GOPE.

Conclusão

É, galera. Nada nessa vida vem fácil.

Grandes sãos as lutas do dia a dia, mas aí está Humberto Rodella que, mesmo depois de tudo que passou, continuou perseguindo aquilo que ama, sem esquecer-se de fazer bem àquele que precisa.

Hoje contamos com a Narjara Campos no comendo operacional, como CEO, e o fundador da empresa 100% nacional, Humberto Rodella, como presidente.

É uma história muito linda, não é verdade?

Mais do que admirar e nos alegrar com suas conquistas, tiremos um tempo para observar e reter todo o aprendizado que ele teve com esses altos e baixos e fazer, necessariamente, que se torne nosso!

É isso que desejo para todos nós: alegria, paz e muito sucesso em tudo que a gente vier a fazer!

Valeu, batuqueiro, batuqueira! Nos vemos na próxima!

Reinan Santos

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